Portugal não é terreno virgem para os operacionais da ETA e só aos mais distraídos ou incautos pode surpreender o "achado acidental" da base de Óbidos. Há mais de 30 anos que andam pelo nosso país, sem merecer grande atenção por parte das autoridades.
Marinha Grande, Abril de
1978, pavilhão do Embra. Em torno da figura de Otelo Saraiva de Carvalho, derrotado nas eleições presidenciais de 1976, reúne-se o congresso constitutivo da Organização Unitária de Trabalhadores (OUT) - nome provisório. A ideia é levar avante a "revolução socialista", através da tomada do poder "pela violência". A OUT resultara de uma cisão no Partido Revolucionário do Proletariado-Brigadas Revolucionárias (PRP-BR) e mais tarde daria origem à Força de Unidade Popular (FUP) ilegalizada por ser a face legal das Forças Populares 25 de Abril (FP-25).
Entre os muitos convidados de movimentos de libertação de todo o Mundo estava a o braço político da ETA (o
EIA). "
No caminho até à independência nacional e ao Socialismo, o povo basco não se encontra só e podem estar seguros de que o povo português contará sempre com a solidariedade militante do povo basco e do nosso partido". Esta promessa do delegado basco viria a tornar-se uma realidade muito concreta, dois anos depois e durante o período em que as FP-25 se mantiveram activas, a partir de 1980.
Ex-operacionais das FP-25 garantiram ao JN que era frequente a colaboração entre as duas organizações, sobretudo no
fornecimento de armas e
apoio logístico.
Um dos operacionais, hoje a residir no estrangeiro, confirma várias compras aos espanhóis de muitas dezenas pistolas de calibre 9 milímetros, nomeadamente da marca Tokarev, do exército soviético. Normal também era o apoio quando alguns dos seus
elementos mais intensamente procurados pelas autoridades necessitavam de "recuar" por uns tempos. "
A ETA sempre teve apoio logístico em Portugal, mas não tinha uma base", diz o antigo dirigente das FP-25.
Ao longo dos anos, foram muitos os sinais de actividade da ETA no nosso país. Em meados dos anos 80, numa pensão do centro do
Porto foi detido um dos seus
especialistas na adaptação de armas e fabrico de explosivos.
Outros operacionais foram sendo descobertos e detidos, pontualmente, deixando sinais de alarme quanto à falta de controle das movimentações dos elementos do grupo independentista basco, ou dos explosivos que circulavam, aberta ou clandestinamente, no mercado português. Tudo isto sob o olhar das autoridades portuguesas, que nunca se interessaram grandemente pelo problema espanhol.
Agora, que o problema também se tornou nosso e embora os tempos sejam outros, tem ideias claras quanto ao que poderá estar a suceder. "A pressão em Espanha e França pode estar a obrigar a um recuo massivo dos operacionais, o que tornou a estrutura no nosso país mais visível", diz o mesmo antigo operacional.
"A logística compra-se com muito dinheiro no bolso.
Portugal é um dos melhores locais para montaram uma base, pela língua, pela proximidade e porque nunca se interessou num combate explícito ao terrorismo. A própria
realidade política e judiciária colabora para que eles se sintam à vontade.", diz o antigo operacional das FP-25.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia ... id=1489415